segunda-feira, 22 de junho de 2015

Não, eu não faço faxina de madrugada.

 Lembro de quando eu era pequena minha mãe e amigas e tias e parentes e o mundo que essas mulheres conversavam entre si dizendo que faziam a faxina da casa de madrugada para dar conta de tudo. Achava estranho e até bonito, mas eu não entendia. Cresci, fui morar sozinha, fiquei sozinha durante dez anos até que me apaixonei e decidi me casar e ter filhos...
 Foi uma beleza no começo, eu e ele, ele e eu, a faxineira uma vez por semana, eu trabalhava o dia todo fora e ele também. Depois tive os filhos, a casa ficou pequena, 3 faxineiras fugiram de mim, e de qualquer maneira como eu tinha parado de trabalhar para cuidar da criança e resolvi comprar uma casa maior deixei por isso mesmo para economizar. Valeu a pena pois comprei a casa nova. (só falo nisso, eu sei, mas o foco da economia é esse, foquei na casa nova e parei com todo o resto que eu costumava gastar).
  Sei que quando comecei a fazer a faxina da minha casa sozinha eu fiquei meio alucinada, foi quando comecei a pirar, aliás quero reler meus textos dessa época pois foi quando comecei a escrever, quando dispensei a ajudante, quer dizer, ela me dispensou e não arrumei outras. Também né? Um apartamento de 45 metros quadrados com eu enchendo o saco e minha filha berrando, fora a zona que bebê faz, não é à toa que 3 correram, hahahahahah. Agora eu as entendo, na época lembro que fiquei com muita raiva.
 Volta mãe consumista, volta! Sei que no começo foi um horror, meu marido chegava em casa todos os dias gritando comigo que a casa estava bagunçada e eu me cobrando porque não dava conta de tudo, eu jurava que tinha que dar conta. Eu achava que não podia sair de casa se não estivesse tudo brilhando, comecei a ficar sem paciência com a bebê porque ela não me deixava fazer nada, ela berrava o dia inteiro e berra até hoje. Foi um caos e um verdadeiro inferno, ainda bem que passou e eu aprendi. E posso dizer que hoje valeu a pena. Sei que eu chorei todos os dias seguidamente durante esses dois anos, me arrependi amargamente de ter me casado e ter tido filhos. Amaldiçoei tantas vezes Deus por ter me enganado, mas eu que me enganei sozinha. Achei que só porque escolhi o casamento e os filhos iria ser fácil.
 Minha mãe sempre me dizia que era infeliz porque ela não me queria e engravidou sem querer, que era infeliz porque precisava de mais dinheiro, porque era pobre e porque meu pai que era rico não tinha se casado com ela, apesar dela ter tido 3 filhos com ele. E que a culpa era toda da minha vó e da minha madrasta. Temos que crescer para entender que não é bem assim. Porque meu pai fez três filhos nela e não se casou, não sei, mas a culpa não é da minha vó, quem não quis foi ele e a culpa não é da minha madrasta, porque ele quis se casar com ela. Ué, ele escolheu ela.
 Bom, cresci sempre pensando que se eu me casasse por amor, e tivesse condições financeiras de colocar um filho no mundo com tudo do melhor minha vida seria maravilhosa. O único problema era que eu não podia ser mãe solteira e muito menos pobre. Só isso.
 Bom, tive o casamento dos sonhos, o marido que amo, os filhos mais lindos, uma vida financeira estável e tranquila. Só que aprendi na prática que mesmo uma vida estável requer sacrifícios e abstinência em prol de coisas maiores e palpáveis.
 A tal alegria genuína deixa de ser alegria na primeira dificuldade financeira. Vida a dois não é fácil, filho exige atenção e casa tem serviço sempre.
 Descobri o quanto é difícil cuidar de uma casa, marido e filhos. Quando decidi parar de trabalhar eu achava que era moleza e inclusive até quis ficar sem faxineira pois não achava justo eu não trabalhar fora e ainda ter uma ajudante. Ledo engano meu que nem imaginava o quanto uma casa nos consome.
 Lembro de amigas minhas que diziam, minha mãe não faz porra nenhuma o dia todo, ela não trabalha fora, lembro do meu pai dizendo para minha vó, você nunca fez porra nenhuma, só fazia faxina e comida. Só... Ingrato, pois se não fosse ela fazer a faxina e comida para ele quem ia fazer? Hein? O pai dele foi embora quando minha vó estava grávida de 7 meses e ela foi casar com meu "avô" postiço quando meu pai já tinha seis anos, e eles ficaram ricos quando eu já tinha uns 5 anos, então antes a vida deles sempre foi bem difícil e se minha vó não fizesse a comida e a faxina, ele não ia crescer, pois quem ia dar comida para o boneco?
 Eu mesma, tinha tanto ódio da minha mãe, realmente ela cometeu atrocidades comigo como me fazer largar a escola com 13 anos e ir trabalhar enquanto ela ficava dentro de casa trancada com o namorado gastando o dinheiro que minha avo tinha dado para pagar a escola... Ou de não fazer comida porque tinha gasto o dinheiro da pensão... Enfim, mas eu cresci e tenho saúde e fico imaginando o quanto foi realmente difícil para ela. Ela me batia diariamente e várias vezes ao dia com a desculpa de que eu aprontava muito. Eu cresci com muito ódio e depois que engravidei eu jurei que jamais bateria na minha filha, pois como você pode bater num serzinho tão pequeno que é o amor da minha vida?
 Agora eu entendo que a culpa não era dela, tem que ter estrutura, pois realmente é fácil ter vontade de bater num serzinho tão pequeno que é o amor da minha vida. O buraco é mais embaixo, não é só isso. Criança é violenta, é birrenta, é chata, dá um trabalho do cão, agora com 3 anos ela não me deixa ter vida própria, imagino minha mãe completamente desestruturada com 3 filhos, uma casa de 3 quartos, separada do meu pai, que na cabeça dela se ele estivesse junto com ela seria mais fácil (tenho certeza que não seria). Acontece que só deve ter filhos quem tem estrutura mental de entender que não se pode fazer nada na hora do nervoso e que sim, você vai ficar nervosa e muito! Mentira quem diz que nao fica com raiva ou não tem vontades, mas é uma criança, que você colocou no mundo e tem obrigação de amar, educar e ensinar e bater não ensina nada. Só faz a criança achar que e normal bater e que quem é maior bate no menor. Minha filha me dá um monte de porrada e ela nunca apanhou na vida e nunca vai apanhar. Só que ela está testando seus limites, que ensinamento vou passar se eu revidar? Que o maior bate no menor, que quando ela for maior pode bater no menor. Nanananananininana.
 Começou a ficar mais difícil e fiquei muito mais nervosa quando fiquei sem ajudante, percebi que eu ficava sem paciência com ela quando eu queria fazer algum serviço, alguma comida e ela não deixava. Não deixa até hoje. Essa era a hora que eu gritava e perdia a paciência, quando pegava a vassoura e ela se pendurava em cima, quando passava um pano e ela escorregava e caia de bunda, quando eu acabei de lavar o sofá e ela derrubou um copo cheinho de vitamina 10 minutos depois.
 Teve vezes de eu fazer algumas coisas depois que ela dormia, mas acontece que depois que ela dorme estou parecendo um zumbi e sim eu tenho o direito de ficar de pernas para o ar de vez em quando e não, não vou fazer faxina de madrugada.
 Isso é um absurdo, toda mulher precisa de alguma ajuda e se não tem condições financeiras, como eu agora não tem que fazer de madrugada e depois gastar horrores em médico e remédio porque começa a ficar doente e isso se não ficar doente até da cabeça. Teve época que pensei que ia enlouquecer e ninguém merece enlouquecer porque está tentando fazer algo por amor. Ninguém merece enlouquecer porque resolveu abrir mão de sua vida para cuidar da sua família. Família, casa e filhos tem que ser algo bom. Tenho certeza que ainda sentirei muito prazer e alegria em viver unidos em família, por enquanto acho difícil, mas acredito que é por isso. É muito, mas muito serviço e nenhum corpinho aguenta o tranco não.
 Cheguei a me sentir culpada uma época por poder ficar em casa e cuidar da minha filha e por isso eu achava que tinha que ser perfeita, só que esse perfeita quase me levou a ficar doida, fez eu ter vontade de fugir de casa, fez eu odiar minha família, fez eu me arrepender e chorar amargamente durante dois anos seguidos.
 Não faço faxina de madrugada, não tiro dia da faxina, faço aos poucos, me deparo com o limpa vidros, saio passando nas janelas, já tenho que parar porque as crianças e a comida exige minha atenção. Outro dia esbarro com o rodo, saio passando o rodo, outro dia esbarro com meu cansaço absoluto, eu descanso e não quero nem saber.
 Faço tudo sozinha, tudo é só eu e eu tenho direito de ficar com as pernas para cima às vezes. Lavo, passo, cozinho, limpo o bumbum das crias o dia todo, todo dia.
 Faço o que dá para fazer, o que aguento fazer e espero aliviar nosso financiamento logo para sobrar mais dinheiro e eu poder contratar alguém para me ajudar...



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