segunda-feira, 20 de abril de 2015

Eu, marido e nosso dinheiro!

 Após quatro anos de casamento, de meu dinheiro, seu dinheiro, nosso, dinheiro, é tudo meu, quem manda sou eu, você gasta demais, você gasta de menos, onde já se viu gastar 20 reais num pote de vanish, você está deixando faltar dinheiro para eu comprar comida em casa, relatórios intermináveis, marido verificando cada produto na nota fiscal do mercado, só poder comprar no cartão e tem que ser nesse mercado, mas tem o sacolão, tem coisas que não quero aqui, tem que ser do jeito que quero, porque você não gastou tudo que mandei gastar? A mulher aqui em casa sou eu e quem tem que saber a quantidade de sabão em pó que vai sou eu e por aí vai parece que finalmente chegamos a um consenso e nos acertamos com relação ao que é o dinheiro no casamento.
 No começo não sabemos como falar e dividir a parte dinheiro em um casamento. É tão difícil lidar com isso ainda mais em um casal, ainda mais em um casal como eu e meu marido, tão diferentes com as questões financeiras.
 Eu vim de uma família abastada que sempre me deu de tudo, nunca faltou nada, quando faltou foi por irresponsabilidade de algum adulto da família. Só que para fazer parte da herança eu era obrigada a me sujeitar ao jeito militar e tosco deles me criar, usavam o dinheiro como forma de conseguir todo e qualquer respeito, inclusive sempre ressaltando que quem quer meu dinheiro dança conforme minha música, senão, bye, vai se virar sozinha e você nunca vai ter o que eu tenho. Não quis dançar conforme a música de ninguém, até porque eu não sei dançar, sou beeem desengonçada, então preferi dançar conforme a minha música, no meu ritmo, pelo menos consigo acompanhar e não piso no pé de ninguém. Não tive mesmo, tenho melhor, de outra forma, da forma como eu quero.
 Meu marido veio de uma família muito pobre e simples, sempre passou necessidade na vida, a mãe se separou do pai, no tempo do machismo áureo, ele não pagou pensão aos filhos, ela não foi atrás e foi trabalhar de faxineira para sustentá-los, meu marido começou a trabalhar com 13 anos, mas diferente de mim que fui trabalhar aos 13 porque era explorada pela minha mãe, ele foi trabalhar para realmente poder ajudar no orçamento da casa.
 Ele venceu na vida, conseguiu o que queria, mas sempre com dois escorpiões em cada bolso. Eu aprendi a me desapegar de dinheiro, pois eu sei o quanto dinheiro não trás felicidade à ninguém, no caso da minha família só trouxe discórdias, sofrimentos, humilhações. Gosto de dinheiro sim, mas do meu, para me fazer feliz e não como algo para me fazer infeliz.
 Nosso casamento é um campo de batalhas por isso, meu marido só reclama e eu sempre tentando dizer para ele que vai dar tudo certo. Temos mais que a maioria dos casais que conheço, e somos o casal que mais briga por isso. Impressionante.
 Não largamos nossa mão nunca, nem quando estamos nos matando tentando acertar, mas sempre tentamos acertar, controlamos nossas contas, ele acha que temos que passar a pão e água, o que às vezes é bom para equilibrar o meu lado hedonista, que quero viver a a base de caviar. Tive tanto trauma por causa de dinheiro, minha família inteira é brigada por isso, é tanto ciúmes em cima de mim pois sou a queridinha da dona do dinheiro, que me desapeguei. Sou a queridinha e nunca tive vantagem nenhuma em cima disso, só sou a queridinha por puro amor mesmo, vantagem financeira não tenho, diferente do que todos acham.
 Enfim, duas pessoas tão diferentes, de lugares e realidades tão diferentes, decidem unir às carteiras em nome do amor. Nos casamos pensando em amor e paixão e viagens e restaurantes, mas depois do casamento vem a realidade, precisa de dinheiro para pagar os luxos e as necessidades também.
 Como disse, temos mais que a maioria, não temos problemas de dinheiro, mas brigamos enlouquecidamente por causa dele.
 Casamos e decidimos engravidar, combinamos que eu iria parar de trabalhar, para cuidar dos filhos e ia tentar conciliar com a representação que eu fazia na época, mas ia trabalhar na representação para me "ocupar". Eu não imaginava que filho ocupasse tanto tempo.
 Enfim, tudo decidido e lindo, eu não trabalho mais fora, me cuidei na gravidez, tentei conciliar a representação, mas não deu certo, fui algumas vezes com as crianças, o transtorno foi tanto e o gasto foi tanto que resolvi dar um pause e voltar depois que eles forem à escola.
 Enfim, mas tudo decidido e resolvido, meu marido começou a entrar numas de que eu não tenho que trabalhar fora, mas eu não como, não bebo, não consumo. Tipo, meu, peraih, tenho minhas necessidades, assim como todas nós.
 Sei que engordei 25 kg na gravidez e sempre fui muito vaidosa e a coisa que menos queria no mundo era ser uma grávida que só anda de legging, pela amor de deos!!!! Ninguém merece e aliás, como que uma grávida anda de legging, sério, até comprei uma, mas credo aquilo me apertava de uma forma, me dava uma coceira, me deixava tão agoniada que sério, não sei como dizem que aquela porcaria é confortável, além de feia demais, aff, legging é para academia e pronto!!!!!!!
 Enfim, queria comprar as coisas e o único dinheiro que meu marido me deu foi 500 reais no começo da gravidez que eu comprei duas calças saruel, duas camisetas, um sapato e acabou o dinheiro. Foi aí que comecei a me endividar... Queria vestidinhos, camisetas mais descoladas, alguma outra calça mais estilo, enfim, precisava de um guarda roupas para um ano e meio pelo menos, a gravidez e o pós. Nesse período fui comprando onde eu podia, passando cheques, que depois não tinham fundos pois eu não tinha um real, conta na boutique que eu não conseguia pagar pois não tinha dinheiro para pagá-las e assim foi acumulando. Um dia explodiu, mostrei para ele e sanamos as dívidas, mas ele jogou isso na minha cara durante mais de 3 anos todos os dias da vida, até a hora que eu me toquei, que sim, exagerei, mas ele também exagerou, onde já se viu deixar sua mulher grávida por mais de 2 anos sem um real!!!!!!!!!!!! Sério, e ainda dava chilique a cada compra no supermercado e cada vez que comia fora, sério.
 Depois mudamos um pouco as coisas, comecei a cuidar das contas e organizá-las, pois ele se perdia nas coisas. Nossa filha nasceu e aí caiu a bomba, o apartamento é pequeno para nós, vamos comprar um maior, vamos comprar um maior.
 Enfim, sei que depois que ela nasceu passou 3 ajudantes em casa e todas correram, normal, apartamento de 45 metros, com uma criança que berra o dia inteiro, e parece um gremilin de tanta bagunça que faz, ninguém aguenta, muito menos eu, mas entre alguém em casa mais incomodando do que ajudando, preferi fazer as coisas sozinha.
 Aí tive a brilhante idéia de asno de combinar uma mesada com meu marido por eu fazer o serviço doméstico, ai como me arrependo, mas é aquilo, começo de casamento, sem trabalhar, casada com um  ermitão, é complicado, não sabia o que fazer...
 Fora que foi difícil me acostumar com a ideia que eu não precisava e na verdade nem poderia trabalhar mais nesse momento, tanto que dei um monte de cabeçada tentando trabalhar e conseguir ter algum dinheiro, mas nada deu certo. Meu marido trabalha demais, precisa do meu suporte, não temos ninguém por aqui para me ajudar com a criança e o que eu ganhasse não valeria a pena todo o incômodo.
 Foi muito difícil aceitar isso, Sempre fui uma mulher independente, sempre morei sozinha, fui morar sozinha com 19 anos justamente para ter minha autonomia e não aturar desaforo de família, queria ter minha liberdade, fazer o que eu quisesse. De repente me vejo com um bebê berrão no colo, sem poder sair para trabalhar fora, sem poder sair em vários lugares, na dependência do carro no dia que meu marido não precise dele, pois como íamos mudar de apartamento, não adiantava comprar um carro extra, dinheiro que não daria para investir num apartamento novo.
 Sim, vocês devem se questionar, mas não era melhor você deixar na creche e trabalhar fora, não, meu marido tem uns horários loucos, creche e ajudante custa dinheiro, o que eu ia ganhar não ia compensar o que ele ia se incomodar, pois eu teria que trabalhar fora e ainda cuidar de tudo sozinha, como eu cuido. Não sou mãe solteira, mas é como se eu fosse, sou tudo eu, ele viaja, ficar dias fora, sai cedo, volta tarde, tem reunião até dez da noite. Quem ia pagar a conta seria minha filha, caso eu não estivesse disponível para ela. Eu quero ser presente na vida dele e não trabalhar fora o dia todo e deixá-la com estranhos, afinal não temos parentes para deixá-la e mesmo se tivesse, não consigo ver cabimento em eu ir trabalhar fora para pagar um estranho ou outra pessoa para ficar com minha filha, prefiro que seja eu que fique com ela.
 Enfim, fiquei um tempo recebendo a "mesada", como fiquei muito tempo sem nada eu estava endividada, comecei a me perder porque já estava a mais de 2 anos sem dinheiro. Meu marido começou a virar um capeta, chegava em casa e começava a gritar que a casa estava uma zona, que eu não fazia nada direito e outras coisas mais que não precisam e não merecem serem escritas. Engraçado que quando tínhamos faxineira a casa estava um brinco apenas um dia na semana, agora estava todos os dias e todos os dias ele chegava gritando que estava um lixo.
 Vi que esse negócio não estava dando certo. Enfim, à onze meses atrás fechamos negócio, compramos nosso apartamento e na hora do financiamento eu estava cheia de cheques sem fundos. Pagamos os cheques e ele disse que eu ia "pagar" esses cheques para a casa porque eu não tinha que ter gasto tanto dinheiro. Fiquei mais de um ano sem um real, ele não não me dava, por isso entrei no detox, eu simplesmente não tinha dinheiro para gastar e só podia comprar coisas para casa no cartão de crédito. Acredito que foi o pior ano da minha vida, mas é no sofrimento que Deus se manifesta e aproveitei esse tempo para aprender. Rever meus erros, mas achei os erros do bonito também, que é isso, me deixar mais de um ano sem recursos? Ter que comer somente o que ele acha que tenho? Ter que comprar só no cartão de crédito, ser obrigada a cozinhar todos os dias porque o bonito acha que não preciso de um dinheiro quando quero pegar um marmitex.
 Só que eu ainda não tinha propriedade para discutir, ainda estava meio balançada com os gastos exagerados em roupas que fiz, me propus a fazer um detox de gastos para aprender até que ponto eu posso gastar ou não. Nesse meio tempo, saiu a documentação do apartamento e vocês sabem, achei que seria pura alegria, mas ele continua louco.
 Final do ano passado comprei o livro Mulher Inteligente da Sandra Blanco e digo, essa mulher mudou minha vida, esse livro.
 Participo de um grupo de mães onde nos reunimos e discutimos as dores e amores da maternidade e um tema um dia abordado foi esse, como funcionava dinheiro entre o casal.
 Nisso minha mente foi se abrindo, eu não sabia como funcionava nem meu marido. Com certeza eu também é quem deixava, tem esse pensamento de todo machista. Mulher não trabalha, não precisa de luxo, não precisa de roupas, não precisa de nada, não come, não bebe, não fuma (outras coisas quer, né?) (estou malcriada). Amélia que era mulher de verdade, escrito pelo poeta que traiu a Amélia com mais 15 e trocou de mulher não sei quantas vezes na vida, fora a bohemia.
 Fora que o mundo cobra muito de nós, mulher tem que ser boa mãe, ser paciente, cozinhar bem, trabalhar fora, ganhar dinheiro, estar sempre disposta, não gasta demais, faz o serviço doméstico com primor, passa camisa bem e assim vai. Mulher que é dona de casa não é valorizada, ninguém valoriza a mulher que larga tudo, porque garanto para vocês, mesmo que o que eu ganhava sozinha não era muito, para mim era mais que o suficiente, me sustentei sozinha durante anos, não podia me dar ao luxo com algumas coisas que hoje em dia eu posso, mas para mim, somente para mim era o suficiente, agora as coisas mudaram, tenho família e seria egoísmo meu achar que eu deveria continuar trabalhando nesse momento, eu não quero e não acho necessário, depois eu vejo, sei que nesse momento minha família precisa de mim.
 Demorei somente para entender que eu estou fazendo um baita serviço sim, estou cuidando da minha família, dando suporte a meu marido para ele poder trabalhar e se não fosse eu fazer isso hoje em dia não teríamos nosso novo apartamento, sim, porque o fato de eu parar de trabalhar e cuidar da casa e abrir mão de uma porrada de coisas que fez com que conseguíssemos esse feito.
 Eu mesma quem sabe não me dava valor e não impunha esse valor.
 Até o dia que li esse livro e entendi. Independente da mulher trabalhar fora ou não o dinheiro da casa é dela, o que o marido ganha é dela também e eu tive uma conversa séria.
 Não sou à toa, não sou amante, não sou separada e não sou mãe solteira, sou casada e não tenho que receber mesada. Recebe mesada, pensão a mãe que não está com o cônjuge e precisa para sustentar o filho do camarada, esse sim tem obrigação de dar pensão e nem é para a mulher, é para a criança, assim como a mãe também deveria, afinal de contas ela que está cuidando da criança, perdendo a vida enquanto o camarada só trabalha e arruma namoradas por aí e quando fica com a criança todo mundo acha bonitinho, sendo que o bonito não está fazendo mais do que a obrigação, dividir a criação com a mãe.
  Aqui metade é meu, vamos tomar as decisões juntos e é indigno de um ser humano ficar sem um real, isso é falta de dignidade, até bolsa família tem, ameacei ir atrás de um bolsa família, porque como assim, não trabalha e aí não precisa de nada.
 Depois disso mudou tudo, combinamos, chega o dinheiro, guarda pelo menos 10 por cento, o restante paga as contas e o restante é meu para administrar a casa. Que é isso camarada, ter que pedir autorização para comprar panela? Isso não existe, ter que dar explicação de cada quilo de arroz e feijão? Ter que comprar sempre no mesmo lugar porque o bonitinho quer me controlar? Não sou prisioneira para ser controlada em casa passo. A comida eu faço para mim já que ele não come nada do que eu faço e as crianças também não. Se eu não quero cozinhar o problema é meu, se eu quero um pastel, se eu quero um lanche. Esse propósito de detox foi a melhor coisa da minha vida, pois até isso eu vi através dele. Ficava muito tempo sem nada e quando eu tinha eu me afogava, me lambuzava. Igual alimentação, você tem que se reeducar, fazer reeducação alimentar, pois se você fizer dieta quando você ver um brigadeiro vai se lambuzar até passar mal. Come de vez em quando,
 Dinheiro é assim, que é isso, fiquei dois meses sem um real e sem cartão de crédito, o cartão deu pau (não foi falta de pagamento não, foi mudança de número mesmo) e ele simplesmente ignorou que precisava comprar comida. Tive que pegar dinheiro do esconderijo, ninguém merece. O dia que foi para falar foi o dia que dei um basta nessa situação.
 Ninguém merece ficar sem recursos, trabalhando fora ou não. Dona de casa também é emprego e aliás se fosse colocar no lápis ia dar uma boa grana. Mulher inteligente valoriza o dinheiro, pensa no futuro e investe. Assim que tem que ser. Tenho que ter minha parcela para fazer as coisas.
 Todas nós temos que ter. Daqui a pouco eu volto a trabalhar, mas ficar sem recursos nesse meio tempo, ou ter que fazer faxina em casa para ganhar mesada, fala sério, coisas que fui aprendendo ao longo do casamento e tenho mais para aprender.
 Nesse momento estou dura de novo, saiu o apartamento novo, como já falei e o dinheiro está indo para pisos, lustres, cama, enfim, é uma boa causa, rs





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