sexta-feira, 6 de março de 2015

Qual o seu limite?

 Sempre achei que eu tinha um limite, mas acabei descobrindo que não existe limites. Com marido é filhos é assim, você se descobre sem um limite. Quando penso que não vou aguentar mais, percebo que eu tenho que aguentar e pronto, não tem o que fazer à respeito.
 Meu filho já está com 3 anos e continua acordando toda madrugada, toda, às 4 e às 7, todos os dias, durante a semana, final de semana, feriados, dia santo e não existe uma forma de fazer a pessoinha dormir. Lembro como eu me orgulhava e achava que tinha feito alguma coisa certo quando ele cm 2 meses dormia a noite todinha e foi assim até um ano e meio, após isso, never more. Acorda todos os dias, todos todos.
 Me vejo virada num zumbi, estou cansada, estafada, voltei a ter dores de cabeças constantes, coisa que eu não tinha mais. E me digam, alguém consegue fingir a dor de cabeça, alguém sente dor porque quer? Lógico que não. Estou cansada, exausta, não consigo mais e quando penso, não consigo mais, lá estu tendo que conseguir, mais uma madrugada acordando para dar o tetê, mais uma noite cortada ao meio, mais uma noite que eu estava dormindo gostosamente e sonhando e tenho que acordar pulando para fazer mamadeira, para cobrir, volto para cama e rolo horas até pegar novamente no sono, acordo novamente às sete com o manhê, quero tetê, deita mais pouquinho, por favor? Não, eu quero brincar...
 Resolvo dormir mais um pouco, marido levanta e fica com as crianças, quando levanto marido parecendo o demônio em forma de gente aos gritos, minha cabeça já doendo e começa a doer mais, as crianças chorando e ele gritando igual um louco dizendo que onde já se viu eu querer descansar, Porque estou cansada, eu não trabalho fora, só tenho que ficar com as crianças e cuidar da casa, nada mais.
 Porque eu não deito mais cedo? Me deito mais cedo, lá vem ele, nossa, porque vai deitar cedo? Porque estou cansada, exausta, com dor no corpo, dor de cabeça, com vontade de chorar. Me deito e acordo chorando todos os dias, o que foi que eu fiz?
 Me pego pensando constantemente em abandonar tudo, fugir para um ashram na Índia, mas aí o que eu seria? Uma covarde que abandona a cruz no meio do caminho. Por isso digo que não tenho limite, quando chego ao fim da exaustão, da dor no corpo, vejo que tenho que fazer mais uma mamadeira às 4 da madrugada, tenho que lavar mais roupas, tenho que fazer mais comida só para mim, já que minha filha não come e meu marido diz que tem nojo da minha comida. Penso que escolhi errado, que fiz a maior besteira do mundo, que nunca, nunca devia ter me casado e tido filhos. Não tenho capacidade para isso, não tenho paciência com as crianças, não tenho paciência com o marido. Me arrependo amargamente quando me pego gritando na hora que estou fazendo a trança da Elsa na minha filha porque ela pediu, mas ela não para quieta um único segundo sequer e eu estou tentando fazer algo bom, estou cuidando dela, fazendo uma trança que ela me pediu, mas ela não para e eu perco a paciência e grito e saio correndo, me ajoelho em frente à Sagrada Família e rezo e choro amargamente porque acho que ela não merecia a mãe que sou, eu não devia ter feito isso, não devia ter tido filhos, eu sabia que não teria paciência, porque eu fiz isso com ela coitadinha, porque eu a trouxe para esse mundo mal e cheio de ódio. Porque eu fiz isso, a trouxe para um lar cheio de conflitos, cheio de ódio, cheio de gritos, cheio de amarguras?
 Quero ser melhor, acho que já fi pior, tento dar o meu melhor, mas meu melhor não está sendo o suficiente. Não aguento mais acordar e dormir chorando, tenho que rezar constantemente para ter forças para manter esse casamento e essa família, Não aguento mais ter que rezar tanto, ter que ir tanto na igreja, ter que conversar tanto com padre, com psicóloga, com amigas, com vó, com todos para ver se consigo manter isso.
  Manter uma família é uma cruz muito difícil de carregar, manter um casamento com alguém tão diferente é tão complicado, morar com uma pessoa estranha que se acha no direito de te falar o que bem entender, sem educação nenhuma, que acha que pode te pisar e te falar como quiser é impossível. Aí penso, mas o que eu quero? Eu quero ser uma mulher de 40 anos divorciada com filhos? Nada contra, mas eu não quero criar meus filhos longe do pai, mas eu vou ser infeliz para sempre? Só que eu seria mais infeliz sozinha, seria mais infeliz se eu jogasse fora o que batalhei até hoje para conseguir e manter. Não aguento mais discutir por causa de dinheiro. Porque eu inventei essa merda de mudar de apartamento? Porque eu não me acomodei e fiquei aqui no de 45 metros tranquila, era só mudar os móveis. Não sei se toda essa minha infelicidade e toda a grosseria do meu marido é por causa disso, pelo nosso nervosismo de esperar por 10 meses por um documento de algo que já compramos, estamos só esperando a burocracia. Não sei se nosso casamento está abalado por isso, não deveria, deveria ser algo bom e feliz, não tinha que ser o motivo da nossa infelicidade. Só vou saber isso com o tempo, não tenho como ter a resposta, o futuro só chegará no futuro.
 Eu descontava minhas frustrações comprando roupas, mas agora nem roupas eu tenho vontade de comprar, uma por eu não poder pelo detox que anda meio miado em mim e outra por não ter vontade mesmo, não tenho nem onde enfiar, não tenho espaço.
 Porque eu não sou uma pessoa acomodada? Tem gente tão feliz com tão pouco, com menos, será que eu não seria mais feliz que não ansiasse pelas coisas? Será que não seria mais feliz se não quisesse algo meu, se alugasse uma casa? Não sei.
 Grandes poderes trazem grandes responsabilidades, o tio do Homem Aranha falou e isso não se aplica somente ao poder de jogar teias e escalar paredes, mas também ao ganhar dinheiro, ao ter uma família, ao manter uma família unida, ao querer um mínimo de conforto para você e sua família.
 Eu quero, ele quer, ele trabalha eu cuido da casa e dos filhos, afinal alguém tem que fazer isso e não quero terceirizar, ele grita, eu choro, ele está nervoso pensando se vai dar conta de pagar e eu choro pois não aguento tanta grosseria, ele grita comigo, eu grito com as crianças, eu choro amargamente, me ajoelho, peço perdão a Deus e às crianças e tento explicar, peço perdão, tomara que me perdoem, mas acho não tenho capacidade para ser mãe, mas agora já sou e não tenho como voltar atrás, um dia vou pagar por isso, sei que vou, eles vão me odiar e eu vou implorar para me perdoarem, é assim que funciona a vida, aqui se faz, aqui se paga. Não existe um inferno ou um castigo divino, não é isso, a própria vida de se encarrega de tudo, você é bom, você recebe o bem, você é ruim você recebe o desprezo.
 Não sou má pessoa, mas me sinto a madrasta malvada quando perco a paciência. Faço de tudo, faço tudo, tento dar uma boa infância, uma boa educação, sei que podia ser pior, mas eu quero ser perfeita. É impossível ser perfeita, não existe desculpas para perder a paciência, mas repetir a mesma coisa o dia inteiro todos os dias é um pé no saco. Educar um filho é um porre. Ficar o dia inteiro mandando parar, fazendo as coisas, dizendo para ir, para vir, se veste, pega, vai, come, vai fazer xixi, volta, vai, vem sai dai é um saco, para não falar coisa pior.
 E vem ainda os moralistas dizer que não se deve falar não, que não se grita, para que tantos nãos? Porque eu não quero que um tigre coma o braço do meu filho, só por isso, como eu vou dizer sim a uma criança que quer pegar a faca na mão? Ela quer pegar a faca e eu não vou falar nada? Vou deixar? Ela quer enfiar a cabeça na banheira, ela vai se afogar, eu vou deixar? Ela vai enfiar o dedo na tomada, eu vou deixar? É lógico que não, educar é um calvário, acho que por isso minha falta de paciência.
 Você vê a mãe da Peppa e fala, ai, queria ser como ela, ela nunca grita, sempre tem paciência, mas gente, ela fala uma vez e eles obedecem, teve uma menina que escreveu um texto sobre e foi brilhante, pois é exatamente isso.
 Fora que o papai Pig apesar de trabalhar fora ajuda, ele lava louca, faz comida, ajuda a dar banho, vestir, botar para dormir e você tem um marido que não lava a porra de um copo, não consegue recolher a porcaria do lixo, não levanta uma única madrugada em 3 anos e no dia que levanta mais cedo para ficar com as crianças enquanto você pensa que pode descansar um pouquinho, faz o maior inferno na sua vida a ponto de você jogar um prato em cima dele para ele parar de gritar com você e te xingar.
 Ele me questionou que tipo de marido eu estava descrevendo no blog, falei que era exatamente o que ele é, se ele quer uma descrição melhor que ele se torne um marido melhor, simples assim...
 Nossa história quem faz somos nós, eu não sei a continuação dela, estou tentando escrever da melhor maneira possível, sei que hoje, hoje, hoje e nos últimos meses ela tem sido péssima, nunca pensei na vida que seria tão infeliz. Não aguento mais ter que ler Renato e Cristiane Cardoso todos os dias para me convencer que o casamento é uma coisa boa, por enquanto eu não acho que é, acho péssimo, mas dizem que os primeiros anos são assim, que leva pelo menos 10 anos para ficar bom, tenho mais 5 ainda pela frente para ficar bom então.
 Sei que foi isso que quis e me dá muita raiva de mim mesma pois olho para trás, olho para frente, olho para meu marido e vejo o quão loucamente apaixonada sou e que eu faria tudo de novo, apesar de que na hora da raiva eu olho para o alto e falo que me arrependo amargamente, meu coração fala que só digo da boca para fora, pois no fundo, lá no fundo eu sei que não me arrependo e que faria tudo de novo, eu só não contava que seria tão difícil. É o que sempre digo, Walt Disney mentiu para nós, ele só mostrou que ela se casou com o príncipe e foi feliz para sempre, mas ele não disse o quão difícil foi para chegar ao feliz para sempre.
 Por isso os casais se separam, eles não querem essa parte difícil, ninguém quer a tristeza, a dor, todos querem somente o feliz para sempre e não é assim, não existe ganhos sem dor, não tem.
 Tenho certeza que é só uma fase e vai passar, mas meu limite está estourado faz tempo, mas eu olho e digo, não, vai lá, mais um rosário, mais uma vela, mais uma lida na Bíblia, mais uma reclamação com Deus, ele aguenta, ele é seu pai, me socorre Senhor e me dá forças e eu tenho que conseguir mais um dia, mais um mês, mais um ano, é fase, ano que vem as crianças vão à escola, vou ter um tempinho livre somente meu, pode ser disso que estou precisando para parar de chorar, esse ano vou contratar uma ajudante para os afazeres domésticos, vou comprar uma máquina de lavar louça, vai me aliviar um pouco, não vou ficar tão cansada, ano que vem terei meu carro, vai me facilitar a vida, poderei cuidar melhor das coisas, tudo que estou passando é somente uma fase, uma fase difícil e penosa, mas é só uma fase, tenho que extrapolar meus limites e conseguir, vai passar, vou chegar lá, vai ficar mais fácil, meu marido vai ficar mais calmo, logo volto a ser dele.
 Queria só que ele entendesse que meu cansaço está além das minhas forças, eu o amo, por isso dei filhos à ele, mas eu agora estou num momento de cuidar das crianças sem ajuda, sem ninguém, não tenho ninguém, minhas forças estão esgotadas, tanto físicas quanto psicológicas, é uma fase, elas vão crescer e voltarei a ser o que era. Por enquanto só choro, mas logo voltarei a sorrir.
 Mais um pouco, mais um pouquinho, é tipo subir o Everest, você esgota suas forças, mas ou você continua ou você morre seja pelo ar rarefeito, pela tempestade, pelo frio, você continua, vai além...

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