quarta-feira, 13 de agosto de 2014

"Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais..."

 Essa frase da linda Elis Regina não podia ser mais verdadeira, eu não concordava, achava um absurdo quando ouvia essa música antes de ser mãe. Até que...
 Virei mãe, bebezinho lindo no colo, como minha mãe tinha coragem de ser tão ruim comigo quando eu era só um bebezinho igual meus filhos?
 Minha mãe foi péssima, não fazia comida para nós, somente quando era conveniente para ela, me fazia fazer todo o trabalho doméstico enquanto ela ficava dormindo ou passeando com o namorado da semana, me batia todo santo dia, gritava o dia inteiro, mendigava tudo para os outros, dizia que não tinha dinheiro para comprar comida para nós, que meu pai não nos dava pensão, o que era verdade, mas minha avó, a mãe do meu pai assumiu tudo e dava muito mais que a pensão que ele, o irresponsável e negligente pai que eu tinha se casava com outra pessoa e formava uma nova família, que não nos incluía. Meu pai nunca participou da nossa vida, nunca foi num aniversário, numa formatura, num dia dos pais, nunca foi nos visitar, nunca fez a lição de casa conosco. Quando foi me visitar fez meu irmão e sumiu de novo e quando foi visitar eu e meu irmão fez nossa irmã, depois ele sumiu de vez. Eu o via porque minha avó, a mãe dele praticamente forçava a convivência, ela nos pegava, nos levava para a casa dela, nos fazia conviver com ele, nos deixava na casa dele, coisa que ele nunca estava, pois a gente chegava, ele saia e voltava bêbado.
 Mesmo assim, minha avó a mãe dele, sempre nos forneceu tudo, escola, roupa, pensão, mercado, ela era empresária, tinha e tem uma boa condição de vida e nunca nos deixou faltar nada, isso é o que ela pensava.
  Enquanto ela depositava o dinheiro para não passarmos dificuldade, nós vivíamos na miséria, pois eu não sei o que minha mãe fazia com o dinheiro que nunca tinha comida na geladeira, usávamos roupas rasgadas e tênis furado para ir a escola particular que minha avó pagava, ela dizia aos outros que não tinha dinheiro para comprar carne, lembro bem dela falando às pessoas: "Quando dá, uma vez por mês assim eu faço um bife, sabe como é, a carne é muito cara". Nós acreditávamos que era verdade, pois criança sempre acredita no que a mãe diz.
 Lembro que um tio meu, foi trabalhar na cidade que nós morávamos e a filha dele ia à escola a tarde. De manhã ela ficava em casa, ele passava meio dia em casa para pegar ela, dar almoço e levar à escola, minha mãe fazia o coitado do meu tio dividir a marmitinha que ele levava para ele e a filha com todos nós, se fazendo de coitada que não tinha 2 reais para fazer um arroz, hoje em dia eu descobri que arroz, feijão e bife são baratos, qualquer um que ganhe pelo menos um salário mínimo e tiver boa vontade consegue fazer uma comida todo dia aos filhos.
 Sei dizer que eu ando num estado de nervos tão grande que acho que estou começando a compreender algumas coisas, que apesar de revoltantes começo a entender (não aceitar, mas compreender).
 Como criança é irritante!!! Como é difícil ser mãe, cara, é a coisa mais difícil desse mundo! Estou numa semana que parece que qualquer hora meu estômago vai explodir, tenho náuseas de tanto nervoso que estou passando. Mãe, mãe, mãe o dia inteiro! Tenho que ficar o dia inteiro mandando eles pararem de fazer, mexer ou pegar alguma coisa! Que coisa insuportável, fora que estão na fase de berrar e chorar por tudo! Filhinho, escova os dentes, são berros, gritos e lágrimas como se eu estivesse fazendo alguma coisa de errada, estou enlouquecendo!!! Agora inventaram de usar um iphone velho que tem aqui, tem gente que diz que dá essas coisas para os filhos deixarem em paz, mas eu tenho vontade de jogar no lixo, quando deixo eles mexerem ficam correndo atrás de mim com essa porcaria desse telefone para eu arrumar alguma coisa que eles desconfiguraram! E o escândalo na hora de fazer almoço? Mãe, olha eu aqui, olha isso, se digo, filhos, preciso fazer a comida, dá dois segundos se machucam com alguma coisa, lá tenho eu que largar tudo para socorrer, quando volto, arroz queimou, feijão estragou, bolo murchou. E colocar a comida no prato? Não consigo nem lembrar porque meu estômago revira e minha cabeça dói, que estresse! Nem preciso mais dar detalhes da via sacra, pois todas que são mães sabem do que estou falando. É um inferno. Essa seria a definição exata do momento que vivo agora, um inferno. Junta marido estressado com trabalho, que só grita o dia inteiro por causa de dinheiro, essa economia que estamos fazendo para trocar de apartamento que a venda não fecha nunca, eu estou ficando louca. Assim que sinto, que estou enlouquecendo! Principalmente quando começo a arrumar a casa e não consigo, pois enquanto estou arrumando um cômodo, estão bagunçando e sujando outro, pois não é só bagunça, é resto de pão, de comida, de bolacha, vômito, coisas destruídas pela casa inteira, sem contar o aperto, que já cansei de falar.
 Se alguém quer praticar o desapego, tenha filhos, são mais destruidores que qualquer tsunami, e não me venha com esse papo que "comigo vai ser diferente", que não é!!!!!!!!!! "Na minha casa não vai ter esse tipo de problema, não vou deixar eles estragarem as coisas, só podem riscar a parede do quarto deles, imagina que vão riscar meu sofá! Nunca vão mexer nas minhas maquiagens!" Esquece!!!!!
 Tem duas opções, ou você desapega e deixa eles destruírem tudo ou fica igual uma louca gritando o dia inteiro, porque por mais que você suba as panelas, os sapatos, os cremes, as maquiagens, eles acham, eles alcançam, eles destroem, eles escondem, são piores que os gremlins! Parecem um rádio daqueles AM, chiando, falando o dia inteiro sem parar, das sete as sete, sem intervalos comerciais, parece narrador de futebol!
 Eu me sinto a pior criatura da face da terra!! Nunca imaginei na minha vida que iria reclamar dos meus filhos, que ia ficar aqui me lamuriando, sou a pior mãe do mundo! Sou uma péssima pessoa, uma péssima mãe, eu não tenho paciência. Eu grito o dia inteiro, pois tenho que educar meus filhos e nessa de educar acaba escapando uns gritos. Nunca, sob hipótese alguma bateria, pois isso é covardia, bater em alguém menor que você é covardia, coisa de gente ignorante, nem um tapinha, mas mesmo assim eu grito às vezes e isso me dói, pois dizem que gritos são a mesma coisa que bater, pois quando eu grito é que já estou tão saturada de ter falado o dia inteiro a mesma coisa que na milésima quinta vez escapa um grito. Depois me sento na sacada e fico me punido, arrancando meus cabelos, me sentindo a pior criatura do universo porque não tenho equilíbrio e não consigo ter paciência com meus filhos e marido!
 Já pedi mais de um milhão de vezes para Deus me ajudar a não gritar, já rezei, fiz promessa, fiz jejum, propósito e tudo mais para ver se não grito mais, mas é tão difícil!
 Estou enlouquecendo a cada dia, ontem depois da minha filha gritar, chorar e soluçar durante mais de uma hora só porque eu pedi para ela comer feijão e eu me controlar, pois não gritei, me dei parabéns por ter sido paciente, mas quando ela finalmente dormiu eu me imaginei sumindo de casa, indo morar na Índia num ashram e nunca mais voltando. Lógico que não vou fazer isso, mas olha, hoje em dia eu não critico essas mulheres que não aguentaram a pressão e sumiram, porque é muito, muito, muito mais difícil que se imagina.
 Por isso eu digo, começo a compreender minha mãe, e isso está me enlouquecendo, pois eu tive tanto ódio dela por tantos anos, a mágoa que sinto por ela foi o meu combustível durante tanto tempo, eu carregava esse ódio dentro do meu coração e o alimentei com tanto carinho e agora nada disso faz mais sentido! Tudo bem que minha mãe foi demais, mas agora eu vejo, ela é uma pessoa desequilibrada, não tinha estrutura nenhuma, meu pai não quis ficar com ela, meu avô pai dela,  expulsou ela de casa quando engravidou de mim, não teve estudo, completamente ignorante, com 3 filhos, não dá para saber o que aconteceu com a cabeça dela e quem sabe a fez agir do jeito que agiu conosco. Ela deve ter enlouquecido! Vai saber até que ponto ela tentou enfiar comida na nossa boca, não conseguiu e como já tem um problema, não tem um equilíbrio, quem sabe uma hora desistiu de tudo, achava que como filho dava muito trabalho e fazia tanta sujeira e eu era a mais velha tinha a obrigação de limpar tudo na casa e cuidar de tudo, enquanto ela achava que já tinha feito demais.
 Vejo que eu com toda estrutura que tenho, com marido, que apesar das minhas reclamações, é um bom marido, é um bom pai e está aqui para eu contar quando preciso, temos uma vida financeira estável, esse aperto todo é porque estamos adquirindo um imóvel maior para morarmos, não porque realmente eu tenha que passar algumas coisas, todo o estudo e a quantidade de informação que tenho acesso, ainda assim eu tenho a impressão que vou enlouquecer às vezes de tão difícil que é...
 Como posso eu ter tanto ódio assim deles, dos meus pais, se eu apesar de todo trauma que sofri, apesar de ter procurado uma terapeuta quando estava de sete meses de gravidez pedindo para ela ajudar a ser uma boa mãe, que eu não queria ser igual a minha, apesar de toda ajuda que busco eu sou uma péssima mãe, uma péssima esposa, uma péssima pessoa! Assim que me sinto, culpada! Me sinto péssima pois eu achei que era só ter um bom plano de saúde e comida na mesa que eu seria uma boa mãe. Achei que era o financeiro que fazia minha mãe ser tão ruim conosco, pelo menos era o que ela alegava, que era daquele jeito porque não tinha dinheiro (que hoje eu sei que tinha, mas não sei onde enfiava).
 Tenho muito a melhorar ainda para ser uma boa mãe a meus filhos, mas o ditado de nunca julgueis para não ser julgado é a mais pura realidade, principalmente quando se vira mãe. Tudo que eu achava absurdo uma mãe fazer a um filho não acho mais, pois se a mãe não buscar ajuda profissional, espiritual, familiar e dos amigos pode enlouquecer mesmo e fazer atrocidades.
 Ainda bem que muitas leis estão mudando, conseguiram finalmente aprovar a lei da palmada, que virou lei do menino Bernardo, pois assim acredito que as mães entendam que é de enlouquecer, mas que não pode enlouquecer, vejo que as pessoas eram muito ignorantes nesse aspecto. Até porque não é batendo que as crianças vão deixar de fazer coisas de crianças, elas fazem isso porque são crianças.
 Como a Elis diz, apesar de termos feito tudo, tudo tudo que fizemos...


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